terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

CRÔNICA





Dimas Macedo

Quitaiús é uma terra bastante abençoada. A fertilidade do seu solo, as águas do Riacho do Rosário, a influência do Padre Cícero sobre a formação de sua comunidade, e a acentuada religiosidade do seu povo, fazem desse distrito de Lavras da Mangabeira um lugar para o qual sempre volto a minha atenção.
Impressiona-me que Quitaiús tenha dado nove sacerdotes à constituição do clero cearense, contando-se entre eles dois importantes prelados que muito honram a igreja católica do Brasil: monsenhores José Edmilson de Macedo e Alonso Benício Leite.
Penso que nenhum outro sacerdote lavrense foi mais virtuoso, mais humanitário e mais genuinamente cristão do que o Monsenhor Alonso, glória máxima de Quitaiús e também do município de Lavras, merecendo do sítio Roça Velha todos os louvores por ter sido a pátria que o viu nascer.
O Monsenhor Alonso Benício Leite, filho de José Felipe Benício Junior e de Antônia Leite de Oliveira, nasceu no distrito de Quitais, aos 15 de fevereiro de 1915, e faleceu na cidade de Baixo Guandu, Estado do Espírito Santo, aos 26 de setembro de 1991.
Sempre demonstrou, desde muito cedo, o vivo desejo de ser padre. E foi com esse espírito, decididamente cristão e fervoroso, que ainda muito jovem emigrou para o Rio de Janeiro, levado pelo seu primo, Dom Hilário Leite de Macedo, que era Monge Beneditino e que muito influenciou na sua formação.
Após a conclusão do seu curso primário, seguiu para Manhumirim, Estado de Minas Gerais, com o Padre Júlio Maria de Lombarherde, fundador da Ordem dos Sacramentinos de Nossa Senhora, ali realizando os seus estudos de humanidades, na Escola Apostólica da mesma Congregação.
Concluiu seus estudos teológicos no tradicional Seminário de Mariana, em Minas Gerais, e foi ordenado sacerdote aos 21 de dezembro de 1941, na Catedral Metropolitana de Vitória, celebrando sua primeira missa na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no município de Serra, Estado do Espírito Santo.
Desenvolveu a sua vocação sacerdotal no interior daquele Estado, onde realizou obra social e apostólica das mais reconhecidas. Sempre demonstrou uma predileção pelos pobres e desamparados. Fundou asilos, educandários, casas de apoio a crianças desamparadas e a jovens desvalidos.
Edificou a sua vida tendo por modelos os ensinamentos de São Francisco de Assis e a obra social dos grandes missionários do Nordeste, a exemplo do Padre Ibiapina, Antônio Conselheiro e Dom Helder Câmara.
Preocupado com os segmentos desassistidos da população, com a inoperância da cultura erudita e com a falta de responsabilidade da elite política de sua nação, fundou, em 1942, a Sociedade Brasileira de Cultura Popular, ainda hoje em franca atuação no Sudeste do Brasil.
O que marcou, contudo, a atuação terrena desse servo de Deus e da Igreja, foi a criação da Congregação das Milicianas de Cristo, em 1948, instituição social e de natureza caritativa destinada à causa das crianças e jovens desamparados, impondo a essa importante instituição a extraordinária personalidade carismática do seu criador, que sempre esteve atento à lição dos Evangelhos e à sua essência humana e social.
Com marcante atuação nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, a Congregação das Milicianas de Cristo chega agora no Ceará, para honra da Diocese de Crato e para glória do município de Lavras, que o viu nascer e que o tem como um de seus rebentos mais abnegados.
Talvez o assunto desta crônica tenha passado despercebido pelos lavrenses e pela comunidade do Médio Salgado, mas o certo é que no dia primeiro de outubro de 2010 chegaram a Quitaiús as Irmãs Milicianas de Cristo, vindas do município de Baixo Guandu, Estado do Espírito Santo.
Chegaram a Quitaius acompanhadas pela Superiora Geral da Congregação, Irmã Cleuza Maria de Assis, com o fim de instalar no âmbito da Diocese do Crato a Fraternidade Monsenhor Alonso, primeiro núcleo cearense da Congregação das Milicianas de Cristo.
Acolhidas carinhosamente pelo Padre Fabiano, da paróquia de Nossa Senhora do Rosário, e por familiares do Monsenhor Alonso Benício, numa festa marcada por fogos de artifício e músicas missionárias de grande apelo carismático, a entronização da Congregação das Milicianas de Cristo na comunidade se fez através de caminhada pelas ruas daquele lugarejo, exatamente no dia dedicado a Santa Terezinha de Jesus.
Houve na oportunidade a abertura do mês missionário e na sua homília o Padre Fabiano registrou o significado do acontecimento e destacou a permanência das Irmãs Cleuza Santana e Antonia Ferreira de Sousa na localidade, expondo os objetivos da Fraternidade Monsenhor Alonso, que seria, no caso, promover a evangelização e a formação de pastorais e movimentos eclesiais, na linha de atuação traçada pelo Monsenhor Alonso Benício.
Esta é a glória maior de um homem de fé e de ação: voltar à sua terra natal em forma de semente que haverá de prosperar em defesa do bem, porque o Monsenhor Alonso Benício Leite não morreu; pelo contrário, agora ele começa a germinar no meio de nós.

Fortaleza, 19.11.2010

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