terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Carta






Fortaleza, 20 de janeiro de 2011
Caro amigo e conterrâneo Alzir,
Essa missiva tem como serventia confirmar e perpetuar nossa amizade vinda de muito longe, a se perder de vista, da qual você é conhecedor, desde os tempos de camaradagem entre nossos pais, até porque você é afilhado de crisma do meu pai.
Em primeiro lugar quero levar meus agradecimentos pelo presente que você me trouxe de Natal, as “Novas Cartas do Sertão do Seridó”. Caiu como uma luva na mão da sertaneja de raízes fincadas nas faldas do serrote dos Três Irmãos, na ribeira do Riacho do Rosário. Sua amiga que nunca se livrou dos palavreados que é comum ao povo do sertão nordestino. Muitas dessas expressões empregadas nas cartas de Paulo Bezerra estavam amofambadas na minha cachola, e agora com essa leitura vieram à tona. Revivi acontecimentos do tempo de meninota, viajei no tempo, transportei-me aos cafundós dos Judas, à Tapera, São Francisco, uma coisa medonha.
Como você é sabedor, o povo caririense, especificamente na ribeira do Riacho do Rosário, usava expressões semelhantes às do povo seridoense, portanto me deliciei com a leitura das cartas.
Muito me alegrou quando conferi na página 125, a minha amiga seridoense, a historiadora Maria do Céo Costa, pois na minha estada em Natal nos tornamos amigas.
Agora me prometa uma coisa, fique de mutuca acesa, quando sair nova edição das “Novas cartas do sertão do Seridó”, quero adquirir quatro exemplares para presentear meus amigos sertanejos, os escritores telúricos, Batista de Lima, Neide Freire, Dias da Silva e Pereira Albuquerque, que, assim como nós, são afeitos às coisas do sertão.
Sugiro ao amigo doutor em Letras documentar os ditos populares da nossa terrinha, as conversas que ouvia nos alpendres das casas dos sítios Mareco e Roça Velha, assim como fez o Paulo Bezerra, pois será um grande legado que você poderá deixar para as novas gerações.
Fico no aguardo de sua próxima visita a Fortaleza para vir saborear a paçoca pilada no pilão, a sobremesa de arroz-doce com coco e um cafezinho torrado no caco com rapadura dos engenhos da ribeira do Riacho do Rosário servido no bule de ágata azul pintado de flores brancas.
Inté mais ver.
Abraços
Rosa Firmo

CRÔNICA





Dimas Macedo

Quitaiús é uma terra bastante abençoada. A fertilidade do seu solo, as águas do Riacho do Rosário, a influência do Padre Cícero sobre a formação de sua comunidade, e a acentuada religiosidade do seu povo, fazem desse distrito de Lavras da Mangabeira um lugar para o qual sempre volto a minha atenção.
Impressiona-me que Quitaiús tenha dado nove sacerdotes à constituição do clero cearense, contando-se entre eles dois importantes prelados que muito honram a igreja católica do Brasil: monsenhores José Edmilson de Macedo e Alonso Benício Leite.
Penso que nenhum outro sacerdote lavrense foi mais virtuoso, mais humanitário e mais genuinamente cristão do que o Monsenhor Alonso, glória máxima de Quitaiús e também do município de Lavras, merecendo do sítio Roça Velha todos os louvores por ter sido a pátria que o viu nascer.
O Monsenhor Alonso Benício Leite, filho de José Felipe Benício Junior e de Antônia Leite de Oliveira, nasceu no distrito de Quitais, aos 15 de fevereiro de 1915, e faleceu na cidade de Baixo Guandu, Estado do Espírito Santo, aos 26 de setembro de 1991.
Sempre demonstrou, desde muito cedo, o vivo desejo de ser padre. E foi com esse espírito, decididamente cristão e fervoroso, que ainda muito jovem emigrou para o Rio de Janeiro, levado pelo seu primo, Dom Hilário Leite de Macedo, que era Monge Beneditino e que muito influenciou na sua formação.
Após a conclusão do seu curso primário, seguiu para Manhumirim, Estado de Minas Gerais, com o Padre Júlio Maria de Lombarherde, fundador da Ordem dos Sacramentinos de Nossa Senhora, ali realizando os seus estudos de humanidades, na Escola Apostólica da mesma Congregação.
Concluiu seus estudos teológicos no tradicional Seminário de Mariana, em Minas Gerais, e foi ordenado sacerdote aos 21 de dezembro de 1941, na Catedral Metropolitana de Vitória, celebrando sua primeira missa na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no município de Serra, Estado do Espírito Santo.
Desenvolveu a sua vocação sacerdotal no interior daquele Estado, onde realizou obra social e apostólica das mais reconhecidas. Sempre demonstrou uma predileção pelos pobres e desamparados. Fundou asilos, educandários, casas de apoio a crianças desamparadas e a jovens desvalidos.
Edificou a sua vida tendo por modelos os ensinamentos de São Francisco de Assis e a obra social dos grandes missionários do Nordeste, a exemplo do Padre Ibiapina, Antônio Conselheiro e Dom Helder Câmara.
Preocupado com os segmentos desassistidos da população, com a inoperância da cultura erudita e com a falta de responsabilidade da elite política de sua nação, fundou, em 1942, a Sociedade Brasileira de Cultura Popular, ainda hoje em franca atuação no Sudeste do Brasil.
O que marcou, contudo, a atuação terrena desse servo de Deus e da Igreja, foi a criação da Congregação das Milicianas de Cristo, em 1948, instituição social e de natureza caritativa destinada à causa das crianças e jovens desamparados, impondo a essa importante instituição a extraordinária personalidade carismática do seu criador, que sempre esteve atento à lição dos Evangelhos e à sua essência humana e social.
Com marcante atuação nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, a Congregação das Milicianas de Cristo chega agora no Ceará, para honra da Diocese de Crato e para glória do município de Lavras, que o viu nascer e que o tem como um de seus rebentos mais abnegados.
Talvez o assunto desta crônica tenha passado despercebido pelos lavrenses e pela comunidade do Médio Salgado, mas o certo é que no dia primeiro de outubro de 2010 chegaram a Quitaiús as Irmãs Milicianas de Cristo, vindas do município de Baixo Guandu, Estado do Espírito Santo.
Chegaram a Quitaius acompanhadas pela Superiora Geral da Congregação, Irmã Cleuza Maria de Assis, com o fim de instalar no âmbito da Diocese do Crato a Fraternidade Monsenhor Alonso, primeiro núcleo cearense da Congregação das Milicianas de Cristo.
Acolhidas carinhosamente pelo Padre Fabiano, da paróquia de Nossa Senhora do Rosário, e por familiares do Monsenhor Alonso Benício, numa festa marcada por fogos de artifício e músicas missionárias de grande apelo carismático, a entronização da Congregação das Milicianas de Cristo na comunidade se fez através de caminhada pelas ruas daquele lugarejo, exatamente no dia dedicado a Santa Terezinha de Jesus.
Houve na oportunidade a abertura do mês missionário e na sua homília o Padre Fabiano registrou o significado do acontecimento e destacou a permanência das Irmãs Cleuza Santana e Antonia Ferreira de Sousa na localidade, expondo os objetivos da Fraternidade Monsenhor Alonso, que seria, no caso, promover a evangelização e a formação de pastorais e movimentos eclesiais, na linha de atuação traçada pelo Monsenhor Alonso Benício.
Esta é a glória maior de um homem de fé e de ação: voltar à sua terra natal em forma de semente que haverá de prosperar em defesa do bem, porque o Monsenhor Alonso Benício Leite não morreu; pelo contrário, agora ele começa a germinar no meio de nós.

Fortaleza, 19.11.2010

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O enredo infantil de Clara Lêda

A literatura é sonho. Clara Lêda é uma sonhadora por excelência, Nasceu numa terra fértil, um paraíso, a serra de Ubajara. No seu livro infanto juvenil, “Luizita e sua turma na gruta de Ubajara,” nele está implícito à volta ao tempo perdido, como Proust ela retoma, e reconstrói um paraíso perdido. Sabemos que a leitura, por meio da imaginação e sensações, nos permite viajar a lugares reais e irreais; descritos e imaginados pelos seus autores. Atualmente, em nosso mundo palpável, a literatura, além de inspirar viagens pelas letras, incentiva a viagem aos ambientes que inspiraram a criação de um livro, e aos locais onde nasceram e viveram os autores.
No livro de Clara Lêda estão presentes os elementos: enredo, tempo, espaço e personagens, a trama, o clímax e o desenlace. Onde aconteceu, o que aconteceu, porque aconteceu e as conseqüências do acontecimento.
No tecido da obra ela apresenta os aspectos fisiográficos, hidrográficos, conduzindo o leitor através dos personagens da história ao conhecimento daquela região de natureza tão exuberante e abençoada. Além do aspecto didático a autora demonstra na sua narrativa os acontecimentos por ela vivenciados na sua infância que marcaram sua história de vida e influenciaram sua obra.
Como educadora ela não consegue esquecer seu compromisso com a leitura e a literatura, na sua escritura procura dar um jeito de ensinar uma criança a ler. Finalizando a história no seu livro, Clara Lêda sugere e aponta mais conhecimento sobre a região da Ibiapaba com uma excelente proposta de atividade em que o leitor poderá refletir sobre o texto, e um glossário para maior conhecimento do vocabulário.
A autora transportou-se do paraíso natural, do mundo fantástico de aventuras, de lendas, de histórias de trancoso, e enveredou-se no mundo da educação e das letras. Veio para Fortaleza ampliar seus estudos e com habilidade ela encena na literatura suas imagens guardadas na memória afetiva para fazer com que outras crianças sonhem.

Rosa Firmo
Fortaleza, 11/10/2010

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Carmosa Soares - Uma Mulher sem Fronteiras

Quando se quer palavras que falem de sutilezas procura-se ancorar no vôo das borboletas, na pureza das crianças, nas flores, nas asas do vento, na magia da música. Para falar de uma mulher otimista e de acentuada sensibilidade, se faz mister ancorar na singeleza de sua poesia, que expressa sentimentos de esperança, esparge coragem, alegria e encantamento. É dessa forma que se apresenta a poesia de Carmosa Soares, uma mulher de fibra, de talento, na escalada montanhosa de sua longevidade, cultiva amor à família, a sua terra natal, aos amigos presenteando-os com poemas exalando eflúvios carinhosos.
É curioso saber que a poetisa Carmosa nasceu em Mombaça e ainda na sua infância transferiu-se para Lavras da Mangabeira, portanto a sua imersão nas águas do Salgado o fez envolver-se com o mundo das letras. Sem fronteiras ela persiste ao longo da caminhada semeando amor e poesia nos nossos corações.
Considerável é a minha satisfação em dedicar-lhe meu carinho a tão meiga e simpática amiga. Cumpre-se afirmar que além de poetisa Carmosa é também uma mãe e avó de muitos predicados além de dedicada e terna.
Do seio da Mangabeira
Uma menina surgiu
De sentimentos tão puros
Como uma flor se abriu.
Com ternura e carinho
A sua mensagem tece
Em cada canto semeia fruto
Promove alegria e enaltece.
Rosa Firmo

Tenuidades Poéticas

Para o tempo peço
Que me preserve
Para os infaustos
Que me esqueçam...
Para o sol peço,
Clareie minha estrada
Para a lua, prateie m’ alma.
À tarde
Que anoiteça
Quando eu estiver dormindo
Floresça esperança
Enquanto desabrocham manhãs
Rosa Firmo

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Remanso

Desce em torrentes assombrosas
água suor e lágrima
nas escarpas deslizantes
do remanso de meu rio
arrastam meu corpo nu
num desejo em desatino.
O orvalho do teu corpo dança
em cascatas transbordante
desliza sobre mim
enche a lua de esperança.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Oceamar

Rosa Firmo

Teço com o oceano das palavras
Frases soltas, poesias sem rimas
Onduladas, como ondas do mar revolto
Singelas como as flores das campinas.
Suplico a paz, a solidariedade entre os humanos,
Velejo a nau sem leme e sem direção
Sonho com um mar de união entre os povos
Trafego rumo aos mares da consolação.
Imploro ao Supremo, oceano de amores
Ergo a bandeira da comunicação,
Aspiro àqueles do meu convívio
Um mar de fraternidade em cores
Oceamar é a minha missão.