![]() |
Foto de Nenzão - Tapera de Bibi |
Clareada
de querosene da bonança,
Lamparina
pavio da saudade
Um
retrato ampliado esquecido
na
parede encardida do tempo.
Fogão
a lenha, evola fumaça de esperança.
Panelas
de barro a fumegar,
na
cozinha iguaria solidária e prudente,
a
cantareira sustenta o pote
água
decantada na quartinha
na
sala da infância inocente.
Galos
acordam o caboclo dolorido
sono
pesado da sobrevivência
herança
do campo desprovido,
quebra
o jejum com leite mungido.
O
silêncio quebrado com o aboio, um festejo,
o
estalar dos chicotes dos vaqueiros,
suave
carinho no ouvido sertanejo.
Mulheres
lavam, passam e bordam
a
vida, com entusiasmo e perspectivas,
nas
curvas das veredas tecem
labirintos,
bordados, rendas, varandas,
cozem
iniciativas nos ninhos de alternativas.
Banham
seus corpos nus,
no
ventre do açude,
nos
beirais do rio doce enche a moringa;
escaldadas
das secas se refrescam
no
colo carinhoso da cacimba.
Jarra
d’água na cabeça
tabuada
recitada na ladeira
lá
fora o crepúsculo, a cancela, a porteira.
À
noite no alpendre da Tapera
as
estória de trancoso e assombração,
as
cantorias e as debulhas de feijão.
O
silêncio e as trevas
convidam
ao exercício espiritual:
o
terço, a ladainha cantada,
o
ofício da semana santa
libertam
almas alteradas.
A
dor saída do vermelho do verão
esmaga o barulho do poema,
faz lembrar que tudo isso vivi
e fui feliz nessa lírica cena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário